terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Os efeitos da contração do setor automóvel na indústria metalúrgica e metalomecânica nacional

No editorial da edição de 30 de novembro do jornal “Metal”, o presidente da direção da AIMMAP, Aníbal Campos, manifestou a sua preocupação face à desaceleração significativa que começa a ser evidente na produção europeia de automóveis.

Alertou muito particularmente para o facto de essa contração poder ter efeitos altamente negativos em muitas empresas portuguesas do setor metalúrgico e metalomecânico, as quais têm como principal cliente, direta ou indiretamente, a indústria automóvel europeia.

Considerando a enorme importância do assunto, publica-se em seguida o editorial em causa.

"Os efeitos da contração da indústria automóvel no setor metalúrgico e metalomecânico

Apesar da gravíssima crise económica que afeta Portugal em particular e a União Europeia em geral, a performance do setor metalúrgico e metalomecânico continua a ser altamente positiva.
Os números relativos ao presente ano de 2012 serão seguramente excelentes. Prevê-se que o volume de negócios seja praticamente de 27 mil milhões de euros e que as exportações ultrapassem os 13 mil milhões de euros.
Estes dados são elucidativos da resiliência deste setor e fazem justiça ao trabalho que as suas empresas têm feito no sentido de se modernizar e internacionalizar.
Tem de se reconhecer não obstante que os bons números do setor foram igualmente potenciados pelo crescimento da indústria automóvel europeia nos anos mais recentes.
Na verdade, esse crescimento acabou por ser um verdadeiro catalisador dos índices de produção da nossa indústria.
E não nos reportamos apenas nesse âmbito aos fabricantes de veículos ou de componentes.
Com efeito, tem havido um conjunto alargado de subsetores onde as respetivas empresas se orientaram prioritariamente para fazer face às necessidades e à procura da indústria automóvel europeia.
Referimo-nos também, para além daqueles, a tecnologias de produção, indústrias de fundição, empresas de subcontratação, fabricantes de moldes, produtores de ferramentas e até gabinetes de engenharia e projeto.
Muitas dessas empresas, embora trabalhando transversalmente para várias outras indústrias, estão atualmente muito centradas em encomendas oriundas, direta ou indiretamente, das principais marcas automóveis do nosso continente.Sucede que, infelizmente, começa a haver fortes sinais de contração do setor automóvel na Europa.
Caso essa tendência se agrave, será responsável temer-se um forte abrandamento do crescimento da indústria metalúrgica e metalomecânica nacional.
É pois importante que sejam tomadas medidas que antecipem as consequências negativas que advirão de tal eventualidade.
Na verdade, poderá haver perdas de postos de trabalho e até encerramento de empresas. E o setor mais importante da indústria transformadora portuguesa correrá o risco de ser fortemente abalado, com inevitável impacto no volume de exportações nacionais.
As empresas devem estar preparadas para eventuais cenários negativos e tentar reagir em antecipação, diversificando mercados e até mesmo a sua oferta produtiva.
Independentemente disso, cabe uma palavra de especial responsabilidade ao governo português e às entidades públicas de suporte à indústria.
É fundamental que o governo nacional encare de frente esta realidade. E é verdadeiramente urgente que conceba, em conjunto com os representantes das empresas, uma estratégia realista no sentido de proteger aquele que é hoje em dia o principal alicerce da economia nacional.
Fica aqui lançado o desafio, na expectativa de que estas palavras não caiam em saco roto.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"