sexta-feira, 26 de julho de 2013

Os responsáveis pela crise

No editorial da edição do jornal “Metal” de 26 de julho, o presidente da direção da AIMMAP, Aníbal Campos, lamentou a conduta altamente reprovável que os responsáveis político-partidários deste país insistem em adotar em prejuízo dos superiores interesses de Portugal.

Para além disso, identificou aqueles que são em seu entendimento os culpados pelo que aconteceu e pode vir a acontecer ao país.

Considerando a assertividade e a clareza das palavras de Aníbal Campos, transcreve-se nas linhas subsequentes o editorial acima referido.

"Culpados


Estando o país a viver uma crise política de contornos verdadeiramente inacreditáveis e considerando os efeitos terríveis que da mesma podem resultar para as empresas que a AIMMAP representa, não poderia deixar, enquanto presidente desta associação, de expressar a indignação do mais importante setor da economia nacional face a tudo aquilo que se está a passar.
Atendendo ao facto de ter de escrever estas linhas com alguns dias de antecedência relativamente à data em que as mesmas poderão ser lidas, admito correr o risco de vir a ser ultrapassado pelos acontecimentos. Mas ainda assim arrisco.
A decisão do Presidente da República de tentar envolver os três partidos da governabilidade numa solução de emergência para os graves problemas que afetam o país motivou inúmeras reações. Mas para mim só merece um comentário: surgiu atrasada pelo menos dois anos.
Não quero com isto dizer que a razão do atraso é somente imputável ao Presidente da República. O que me parece é que, ao longo dos últimos anos, nenhum responsável político do chamado arco democrático fez aquilo que estava ao seu alcance para promover uma solução de consenso. Pelo contrário, insistiram todos em destruir as condições indispensáveis para o efeito.
E agora, naturalmente, depois de tantos anos de disputa e acusações mútuas, todos se sentem com razões e legitimidade para imputar o falhanço do consenso aos outros.
O país está prestes a entrar em bancarrota. E já estaria em default caso não tivesse sido assistido pela Troika. A responsabilidade pela lamentável situação da economia poderá obviamente ser imputada a todos aqueles que gastaram mais do que deviam e podiam. Desde o estado central às famílias, passando pela banca e pelas próprias empresas, o país embarcou acriticamente na ilusão do dinheiro fácil e barato. Pelo que, com maior ou menor dose de cinismo, é fácil dizer-se agora que a responsabilidade do que nos sucedeu tem de ser repartida por todos. E à boa maneira portuguesa, a culpa morre solteira.
No entanto, em democracia, somos chamados regularmente às urnas para eleger os nossos governantes. É evidente que o exercício do voto não é suscetível de nos desresponsabilizar. Mas não é menos óbvio que quando votamos estamos a conferir um mandato sobre a nossa vida, a nossa dignidade e o nosso património.
Pelo que os responsáveis máximos pela tragédia para que fomos arrastados têm nomes e rostos bem conhecidos: os políticos muito pouco competentes que nos conduziram num desgoverno de décadas.
São pois eles os culpados pelo que nos aconteceu. Mas infelizmente, por incrível que pareça, o que eles fizeram ao país corre o risco de vir a parecer pouco quando comparado com o que agora, os que estão no ativo, nos estão fazer.
Aos anteriores governos – muitos -, pode ser imputada incompetência. Mas poderão sempre alegar – com maior ou menor cinismo -, que o seu mal foi não antever as consequências.
Já os atuais líderes partidários – tanto os do governo como os da oposição -, jamais poderão sequer gozar do benefício da dúvida. É que mesmo vendo o país literalmente a afogar-se, ainda assim não deixam de pensar em interesses partidários.
Sinceramente, creio que lhes será muito difícil obter o perdão dos portugueses. É que, tendo em conta a sua conduta recente, aos olhos de muitos de nós, eles são culpados não só por incompetência mas também por irresponsabilidade.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

segunda-feira, 1 de julho de 2013

É tempo de trocar a austeridade pelo crescimento

No editorial da edição do jornal “Metal” de 28 de junho, Aníbal Campos, presidente da direção da AIMMAP, manifestou a sua perplexidade pela insistência do atual governo em políticas de austeridade agressiva.

Conforme referiu, é tempo de o governo abandonar as políticas de austeridade, trocando-as por medidas de promoção do crescimento.

Tendo em conta a importância das palavras de Aníbal Campos, transcreve-se nas linhas subsequentes o editorial acima referido.
 
"Austeridade a mais

Todos temos a consciência de que Portugal desde há muito que vinha a gastar bem acima das suas possibilidades. Os sucessivos défices orçamentais que o país foi acumulando conduziram-nos a uma situação absolutamente penosa. E era pois preciso fazer alguma coisa no sentido de invertermos o rumo.
Como não adianta chorar sobre leite derramado, não vale a pena estarmos agora a perder tempo com discussões totalmente estéreis sobre saber se fizemos bem em pedir ajuda ao FMI ou se a negociação com os representantes da Troika foi ou não bem desenvolvida.
Mas já é muito diferente - pela relevância e pelas consequências da questão -, saber se a receita que nos foi aviada através do programa de ajustamento a que estamos submetidos foi a mais adequada. Ou mesmo, se porventura tal receita, tendo em conta a dosagem do tratamento, nos está a fazer pior do que a própria doença.
Dois anos de governação sob tutela permitem-nos tirar conclusões a esse respeito.
É evidente que era necessário introduzir regras e princípios rígidos de contenção orçamental. E é igualmente insofismável que havia um conjunto de reformas estruturais que era e continua a ser necessário fazer.
Pelo que, relativamente às medidas enquadradas nessas duas vertentes entendo que, do ponto de vista conceptual, não haverá muito a censurar.
Podemos achá-las excessivas nalguns pontos, insuficientes noutros ou até formalmente erradas em alguns outros. Mas jamais se poderá contestar que um estado sobre-endividado e uma economia em crise precisam urgentemente de contenção orçamental e de reformas estruturais.
Sendo tudo isto certo, continuo porém sem perceber qual o papel neste guião das políticas de austeridade verdadeiramente esmagadoras com que estamos a ser asfixiados. E quanto mais as vejo e sinto, mais acentuo a minha perplexidade.
Fazendo-se um balanço destes 2 anos, a marca distintiva da governação não está nem na fixação de bons princípios de contenção orçamental nem na implementação das reformas de que o país precisa - ainda que alguma coisa tenha sido feita em tal âmbito.
Pelo contrário, a principal marca desta governação é a austeridade agressiva com que parece querer castigar o país.
Este governo parece entender a austeridade como um verdadeiro modo de vida. Mais do que meios ou instrumentos, as políticas de austeridade com que nos vai punindo parecem ser um objetivo final.
Efetivamente este governo dá a ideia de estar viciado nesse tipo de políticas. E para cúmulo, está de tal forma inebriado que tarda em compreender as consequências negativas que das mesmas emergem. Ainda não percebeu que a austeridade não só não traz qualquer benefício, como, ainda por cima, acaba por minimizar ou mesmo anular os efeitos potencialmente positivos de medidas mais úteis e consequentes.
Por exemplo, esta tremenda carga fiscal com que o país se confronta é um verdadeiro absurdo. Tira-se o dinheiro às pessoas, mata-se o consumo interno e reduz-se o investimento à expressão mínima. E no final do dia a própria receita fiscal também definha.
Por essa via, como bem se vê, estrangula-se a economia e vai levar-se à falência um número muito grande de empresas que trabalham exclusiva ou essencialmente para o mercado interno. Sem qualquer benefício nas contas do Estado português, o qual, pelo contrário, vai arrecadar menos do que arrecadaria se não insistisse nessa asneira.
É pois absolutamente urgente que o governe se liberte do vício da austeridade. Que prossiga as reformas de que o país precisa. Que aperfeiçoe e consolide as boas regras de previsão e execução orçamental. Mas que em vez de insistir em mais austeridade comece a tratar verdadeiramente de medidas que tenham em vista o crescimento económico.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP