quinta-feira, 24 de abril de 2014

Quebra de natalidade ou desconhecimento da realidade?

Todos conhecemos a triste realidade dos números da natalidade e do envelhecimento da população portuguesa.
Por vezes esta preocupação aparece no discurso politica mas apenas quando é conveniente.
Mesmo não havendo um estudo sobre as razões desta alarmante verdade, ouvimos recentemente um académico próximo do PSD e futuro responsável pela Comissão que analisará o problema, dizer que a culpa da quebra da natalidade em Portugal é dos empresários e das empresas. E nisto foi secundado por um membro do governo. Começam mal.
Dizer que o que inibe os portugueses de terem filhos são as más práticas das empresas em relação aos trabalhadores é falso e revela um enorme desconhecimento da realidade.
É chocante para a AIMMAP ver este tipo de declarações em responsáveis que pretendem encontrar nas empresas e nos empresários o bode expiatório para justificar a mediocridade ou impotência das políticas.
Veja as nossas razões da nossa indignação no editorial do METAL aqui

 "A quebra da natalidade

Há anos que a população portuguesa tem vindo a diminuir com uma celeridade que começa a ser verdadeiramente preocupante.
Censo após censo, o número de portugueses vai sendo cada vez menor. Ano após ano, o número de nascimentos em Portugal é invariavelmente derrotado pelo de mortes.
Que eu saiba, não está ao dispor dos portugueses interessados na matéria nenhum estudo sério com a identificação das principais causas para este definhamento da nossa população.
Que seja igualmente do meu conhecimento, não foi até ao momento apresentado por nenhum governo qualquer plano estruturado no sentido de inverter esta tendência e, em consequência, de estimular um aumento da natalidade em Portugal.
Não obstante, muito recentemente duas figuras próximas do PSD do governo vieram apregoar que a culpa da quebra da natalidade em Portugal é das empresários.
No entendimento dessas duas personalidades, são as más práticas das empresas em relação aos respetivos trabalhadores que inibem os portugueses de terem mais filhos.
Tal como muitos outros portugueses – empresários e não só -, também eu fiquei chocado com este tipo de afirmações.
Bem sei que, como em todos os setores da sociedade portuguesa, também no mundo das empresas há bons e maus exemplos.
Mas tomar o todo pela parte e generalizar aos empresários portugueses as eventuais más condutas de algumas maçãs podres é uma conclusão verdadeiramente inaceitável.
E é verdadeiramente surreal que venham responsáveis partidários e governamentais lançar o odioso nesta matéria às empresas portuguesas.
Com efeito, conforme é sabido, os últimos governos de Portugal têm-se dedicado com enorme afã a encerrar maternidades, creches e escolas.
Para além disso, têm vindo a consolidar políticas fiscais que em nada beneficiam as famílias e que ainda por cima estão longe de estimular a natalidade.
Como se tudo isso não bastasse, por muito que as dificuldades do país legitimem politicas austeritárias, a verdade é que os sucessivos agravamentos da carga fical retiram à esmagadora maioria dos jovens casais portugueses a mais pequena possibilidade de poupança para sonharem sequer com mais do que um filho.
Ignorar tudo isto e avançar com acusações irresponsáveis às empresas é de uma leviandade absolutamente inquietante.
Os difíceis momentos que assolam o país, não permitem que se ande a brincar com meros palpites em matérias desta importância.
Até poderei compreender que o Estado invoque as sérias dificuldades com que se defronta para agora não poder fazer o que seria desejável no sentido de criar aos portugueses as condições indispensáveis para poderem ter mais filhos.
E de igual modo, congratulo-me com o facto de este governo ter criado uma comissão para tratar especificamente deste assunto.
Mas nenhum de nós poderá aceitar que venha o Estado, através de mensageiros mais ou menos oficiais, encontrar nas empresas o bode expiatório de serviço para justificação da sua mediocridade ou impotência.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP