sexta-feira, 31 de julho de 2015

Exportações sobre rodas. E sobre carris?

As exportações portuguesas têm como principal destino a Europa e o sector mais exportador, metalurgia e metalomecânica reflecte esta tendência. Cerca de 70% das exportações têm como destino a Europa, sendo a via rodoviária, uma das suas principais formas de transporte, relegando a via ferroviária para patamares secundários, apesar da sua relevância.

Vendo o investimento que os nossos vizinhos mais próximos, Espanha e França, estão a fazer nas infra-estruturas ferroviárias, Aníbal Campos manifesta a sua enorme preocupação pelo não ajustamento nacional à bitola europeia com consequências graves com as quais ninguém aparenta estar preocupado. Veja a reflexão do Presidente da AIMMAP relativamente a este tema crítico para o país, aqui.

"A premência do transporte ferroviário

Tal como é sabido, a grande maioria das exportações nacionais tem como principais destinos os mercados europeus.
Naturalmente, o transporte dos bens e produtos exportados para tais destinos é efetuado predominantemente por via rodoviária.
E mesmo nos casos de exportações para outros destinos mais longínquos, o transporte rodoviário acaba sempre por ter um papel decisivo. Com efeito, considerando algumas limitações dos portos nacionais, muitas das nossas exportações por via marítima são enviadas a partir de Roterdão, Hamburgo ou Antuérpia – o que implica um segmento prévio de transporte terrestre desde Portugal até àqueles portos europeus.
Acresce ao exposto que, até ao momento, para as exportações das empresas portuguesas o transporte ferroviário não consegue ser alternativa efetiva ao rodoviário.
Ora, é naturalmente um forte motivo de inquietação para as empresas exportadoras que os responsáveis políticos portugueses nada estejam a fazer no sentido de que essa alternativa venha a ser uma realidade.
E chega a suscitar perplexidade que não se esteja a ter atenção ao que França e Espanha se preparam para fazer nesse âmbito, com eventuais consequências altamente negativas para os legítimos interesses das empresas nacionais.
Com efeito, presentemente, a Espanha está a investir fortemente no sentido de adaptar a sua rede ferroviária à bitola europeia. Dessa forma, como é óbvio, os nossos vizinhos ficarão ligados ao resto da Europa por via ferroviária.
Portugal, por seu turno, decidiu não efetuar quaisquer investimentos nesse domínio nos próximos anos. Pelo que, não irá ajustar a sua rede ferroviária à bitola europeia.
Por si só, essa inércia portuguesa determina que Portugal ficará ainda mais isolado em termos ferroviários. O que implicará que esse tipo de transporte continuará a não ser alternativa para o escoamento dos nossos produtos em direção aos nossos mercados fundamentais.
Por si só, isto seria grave para a nossa economia. Mas infelizmente, o cenário em termos globais é ainda mais preocupante.
Na verdade, a Espanha já anunciou também que, a curto prazo, será proibida a circulação de camiões nas estradas do País Basco.
De igual modo, as autoridades francesas preparam-se para, também a curto prazo, impedir o tráfego de veículos pesados nas estradas do sul do país.
Se, conforme se prevê, tais impedimentos vierem a concretizar-se, chegaremos rapidamente a um ponto em que os camiões que tradicionalmente transportam as mercadorias portuguesas vão deixar de poder circular em Espanha e França.
Pelo que ficaremos confrontados com uma realidade muito preocupante em que o transporte ferroviário não existe e o transporte rodoviário passa a ser impedido. Ou seja: a oferta portuguesa ficará verdadeiramente estrangulada.
Não podemos aceitar que o governo e a oposição continuem entretidos em guerras paroquiais e não sejam capazes de pensar estrategicamente o futuro da economia nacional.
É urgente que o poder político desperte definitivamente para o que realmente interessa ao país. Será assim tão difícil entender isto?
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Exportações: diversificar para consolidar e crescer

Com um registo imparável no primeiro quadrimestre de 2015, as exportações do setor metalúrgico e metalomecânico continuam a crescer de forma consolidada e evidenciando que 70% do seu volume tem como destino o mercado europeu. Aníbal Campos, no seu editorial do Metal assume o desafio do setor para os próximos 10 anos: crescer para outros mercados igualmente exigentes e interessantes de modo a que a dependência da união europeia não seja tão expressiva. Não porque o projeto europeu possa estar em causa mas porque a globalização está aqui ao lado. Veja esta reflexão no editorial do Metal aqui

"Precisamos de diversificar os destinos das nossas exportações

O desempenho das exportações do setor metalúrgico e metalomecânico ao longo dos últimos anos tem sido absolutamente extraordinário.
Com um enorme orgulho por aquilo que tem sido feito nesse âmbito pelas empresas deste setor, a AIMMAP não se tem cansado de enfatizar os bons resultados, estimular as boas práticas e disseminar os bons exemplos.
As nossas empresas, os nossos empresários e os nossos trabalhadores estão de parabéns por uma trajetória verdadeiramente exemplar.
Em conjunto tivemos a arte de transformar as dificuldades em oportunidades. E conforme uma vez mais se evidencia em trabalho publicado na presente edição do Metal, já não existem quaisquer dúvidas de que o crescimento das exportações deste setor é uma realidade absolutamente consolidada.
No primeiro quadrimestre de 2015, o valor global das exportações ultrapassou ligeiramente os 5.000 milhões de euros, um número sem paralelo desde que há registos e que representa um aumento de quase 15% em comparação com o mesmo período de tempo no ano anterior.
A evidência de tais números justifica que o momento seja de celebração. Mas ao mesmo tempo confere-nos a responsabilidade de fazer ainda melhor.
Na verdade, quando analisamos os notáveis números das nossas exportações, não podemos deixar de reconhecer que uma significativa maioria das nossas vendas tem como destino os restantes países da União Europeia.
Esses nossos parceiros do projeto de construção europeia absorvem um pouco mais de 70% daquilo que exportamos.
Este número relativo é apesar de tudo melhor do que aquele que se registava há 3 anos, momento em que ascendia a quase 80%.
Mas quando comparamos tais dados com as performances dos nossos concorrentes europeus, somos obrigados a concluir que nos encontramos mais dependentes do que eles dos humores da economia europeia.
Países como a Bélgica, a Áustria ou a Dinamarca – já para não falar de uma potência como a Alemanha -, encontram-se muito menos expostos ao mercado europeu, pelo menos no que ao setor metalúrgico e metalomecânico diz respeito.
Em todos os casos atrás citados, as exportações para fora da União Europeia ultrapassam a fasquia dos 50%. E é esse o caminho para o qual teremos de evoluir.
Há duas razões essenciais para que assim deva suceder. Por um lado porque, conforme já atrás sugerido, é conveniente que as nossas empresas não se encontrem tão dependentes de um só mercado. E por outro lado porque, em muitos casos, as margens de crescimento nesse nosso mercado de eleição começam a ficar cada vez mais apertadas.
Este parece ser pois o tempo certo para sabermos antecipar o futuro. O momento em que podemos concluir que as nossas estratégias de internacionalização deram certo e estão a gerar frutos, é também o momento ideal para um reajustamento de uma estratégia vencedora mas que não pode cristalizar-se sob pena de vir definhar.
Esta é assim a oportunidade para investirmos ainda mais na internacionalização das nossas empresas. Teremos de procurar novos mercados. Teremos de procurar encontrar novos parceiros. Teremos de procurar implementar novos modelos de negócio. E teremos também de nos adaptar melhor às necessidades de milhões de consumidores à escala global.
Precisamos de ser ainda mais empenhados e competentes. E precisamos também de ser ainda mais criativos e inovadores.
Não tenho dúvidas de que este é o grande desafio que teremos de vencer nos próximos 10 anos. Estou certo de que uma vez mais saberemos triunfar. Mas é indispensável que trabalhemos cada vez mais nesse sentido. Até porque, como é sabido, é em nós e só em nós que poderemos encontrar forças para concretizar os nossos objetivos. Para isso não há governo que nos valha, tenha ele a composição que tiver.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP "