quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Crescer de forma sustentada

Não há receitas infalíveis mas o Presidente da AIMMAP sugere os caminhos a seguir pela indústria metalúrgica e metalomecânica, rumo ao crescimento continuado. No seu editorial do METAL deste mês, Aníbal Campos, justifica a excelente performance do setor no ano de 2015 e elenca as questões fundamentais para o aumento dos indicadores: a continuidade na formação de qualidade ministrada pelo CENFIM (de preferência sem os habituais obstáculos do Estado neste processo); o aparecimento de novos e mais eficientes programas de apoio à internacionalização das empresas; o suporte à inovação via PORTUGAL 2020; a manutenção das regras de organização do tempo de trabalho que têm estado em vigor ao longo dos últimos anos nas empresas filiadas na AIMMAP. Leia os votos para 2016 aqui

"Como continuar a crescer"
Tal como já vinha a suceder nos anos anteriores, em 2015 o setor metalúrgico e metalomecânico apresentou números extraordinários, os quais devem ser especialmente valorizados tendo em conta o contexto de crise em que apesar de tudo a nossa economia continua a viver.
As exportações foram as melhores de sempre, as empresas estão mais sólidas do ponto de vista financeiro, o investimento aumentou significativamente e o emprego cresceu em quantidade e qualidade.
Todo este percurso de sucesso é essencialmente da responsabilidade das empresas e das entidades que as apoiam como é o caso, evidentemente, da AIMMAP.
Não obstante, é fundamental que os políticos não perturbem aquilo que as nossas empresas estão a conseguir fazer.
Pelo que, neste momento de passagem para um novo ano não posso deixar de sublinhar o nosso entendimento sobre aquilo que será necessário para que o nosso setor continue a crescer num futuro próximo.
Os ingredientes da receita para o crescimento estão identificados. Nesta oportunidade permito-me sublinhar apenas alguns daqueles que nos parecem mais relevantes.
Queremos em primeiro lugar que nos deixem formar os jovens qualificados de que a nossa indústria necessita. Precisamos que deixem o CENFIM continuar a trabalhar e que cessem os constrangimentos e dificuldades que o poder político está sistematicamente a causar ao funcionamento dos centros de formação. Não faz sentido que a formação e a qualificação dos trabalhadores esteja integrada nas escolas do Ministério da Educação. É fundamental que as ações de formação sejam ministradas por quem domina os assuntos e por quem conhece o setor metalúrgico e metalomecânico: o CENFIM.
Em profunda articulação com a questão referida no parágrafo anterior, precisamos que nos deixem criar mais emprego qualificado. As nossas empresas, para serem ainda melhores, sabem que precisam de mais soldadores, serralheiros, torneiros ou operadores de CNC. Mas infelizmente não os encontram, particularmente porque o Estado português não permite que o CENFIM os forme em quantidade suficiente para as suas necessidades. É urgente que os poderes públicos percebam de uma vez por todas como funcionam as economias competitivas e como é criado o emprego que torna competitivas as empresas.
Num plano diferente, é fundamental que sejam dinamizados mais programas de fomento à internacionalização das empresas, essencialmente no âmbito do Portugal 2020. A internacionalização da economia portuguesa, com cada vez mais empresas nacionais no exterior, terá de ser a nossa mais importante aposta estratégica enquanto país. Naturalmente, os setores com maior envolvimento nessa aposta terão de ser aqueles que têm dado mais provas de competência na matéria, como é o caso, entre outros, do setor metalúrgico e metalomecânico.
Ainda no contexto do Portugal 2020, é vital que haja uma aposta consolidada na inovação nas suas mais variadas vertentes. Ora, a indústria metalúrgica e metalomecânica obteve os seus excelentes resultados porque tem apostado de forma reiterada e sistemática na inovação e na investigação e desenvolvimento. Com efeito, não há quaisquer dúvidas de que o nosso setor cresceu significativamente no exterior a partir do momento em que passou a competir essencialmente com base na qualidade e já não em políticas de preços baixos. Significa o exposto que o setor soube apostar na inovação e obteve resultados práticos com essa aposta. Ora, esses são pergaminhos que impõem que as políticas de inovação que venham a ser implementadas pelo estado português tenham em consideração o que já fez, está a fazer e poderá ainda fazer aquele que é o mais importante setor da indústria transformadora portuguesa.
Finalmente, é importante que sejam mantidas todas as regras de organização do tempo de trabalho que têm estado em vigor ao longo dos últimos anos nas empresas filiadas na AIMMAP. Nesse âmbito, o contrato coletivo de trabalho celebrado entre a AIMMAP e o SINDEL é um verdadeiro exemplo de uma negociação equilibrada com ganhos evidentes para ambas as partes, tendo contribuído claramente para a paz social no setor. Não aceitaremos pois que, por vontade de agradar ao sindicalismo do contra, venham a ser efetuadas alterações ao Código do Trabalho que sejam suscetíveis de por em causa um instrumento de regulamentação tão importante como o é o CCT entre a AIMMAP e o SINDEL. De igual modo, todos estamos conscientes da enorme importância da figura do banco de horas, a qual contribuiu para extraordinários ganhos de produtividade por parte das empresas tendo ao mesmo tempo sido útil para a organização da vida pessoal dos trabalhadores. Seria verdadeiramente absurdo que o regime do banco de horas viesse a ser eliminado ou dificultado, ainda por cima como forma de satisfazer os caprichos dos partidos e organizações mais radicais. No mesmo plano, será também preocupante que o partido do governo concretize a reposição dos 4 feriados. A economia portuguesa continua ainda com evidentes dificuldades. Pelo que não estamos ainda em condições de prescindir pura e simplesmente de 32 horas de trabalho anual por cada trabalhador. Uma empresa média com 100 trabalhadores irá perder, de repente, 3.200 horas de trabalho num só ano. Em muitos casos, essa redução poderá ser decisiva em termos de perda de competitividade. É vital que se pense bem nas consequências negativas de medidas como essa antes de se colocar as mesmas na mesa de discussão. Esperemos que o bom senso possa prevalecer.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

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