segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um governo que não faz oposição à troika

Na edição de 25 de janeiro do jornal “Metal”, o presidente da direção da AIMMAP, Aníbal Campos, no editorial respetivo, lamentou que o governo português esteja a ser pouco assertivo na sua articulação com a troika.

Efetivamente, o governo parece submeter-se a tudo o que lhe é sugerido pelos técnicos da troika, desresponsabilizando-se da missão de governar.

Atendendo à pertinência das palavras do presidente da AIMMAP, transcreve-se nas linhas subsequentes o editorial em apreço.

"Será que a culpa é sempre da troika?

Está a iniciar-se um novo ano civil e como sempre são muitas as expectativas e ainda mais as apreensões.

O nosso país está a sofrer enormes dificuldades, sendo sistematicamente fustigado por medidas que penalizam as empresas, as famílias e mesmo a economia no seu todo.
Infelizmente, conhecendo-se o orçamento aprovado para 2013 e adivinhando-se a emergência de novas medidas draconianas não parece haver grande margem para esperança.
Não temos dúvidas de que o governo português estará empenhado em fazer o melhor que pode e sabe para ajudar a resolver os graves problemas do país.
Apesar disso, parece haver necessidade de uma profunda alteração de postura por parte do governo.
Com efeito, como digo atrás, o governo faz o que pode e sabe. Mas não obstante, começa a ser cada vez mais claro que talvez tenhamos chegado a um momento em que será necessário que o governo possa e saiba um pouco mais.
A responsabilidade pela sucessão de medidas com que a economia e a sociedade vão sendo esmagadas tem sido recorrentemente imputada à troika. Tudo o que nos acontece de mau é alegadamente culpa da troika. E ao que parece o governo não tem culpa de nada porque lhe são sempre impostas as receitas subscritas pela troika.
Mas será que assim é? Será que a culpa é sempre e só da troika?
Tenho muitas dúvidas de que o seja. Os representantes da troika – particularmente os do FMI -, são técnicos experimentadíssimos em intervenções em países em crise nos quatro cantos do mundo.
Nesse sentido, têm seguramente um cardápio de diferentes soluções para distintos tipos e dimensões de crises.
Mas não são seguramente infalíveis. Por muito competentes que sejam, correm o risco de errar. E para tal efeito precisam de ter no governo português interlocutores competentes e corajosos que os ajudem a adaptar à realidade portuguesa as soluções teóricas que preconizam.
Porém, a ideia que se torna cada vez mais nítida é a de que nosso governo, com a sua postura simultaneamente voluntarista e timorata, raramente questiona o que lhe é sugerido pelo técnicos da troika.
É precisamente por isso que quase todas medidas de austeridade com que somos confrontados têm a assinatura e a impressão digital da troika.
Mas não significa isso que a culpa seja só da troika. A verdade é que, nunca sendo questionados quanto à eficácia das suas sugestões, os representantes da troika nem sequer têm a possibilidade de aprimorar as medidas que acabam por ser aplicadas aos portugueses.
Com a obsessão de ser um bom aluno e um bom exemplo, o governo está na prática a demitir-se de fazer aquilo para que foi eleito: governar o país.
E está a subcontratar essa missão a um conjunto de técnicos cuja vocação parece ser muito mais básica.
A minha esperança para 2013 é a de que o governo desperte de uma vez por todas. Que assuma a responsabilidade de governar. Que faça oposição à troika. E que remeta os técnicos da troika para o lugar de assessores que lhes incumbe.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"