sexta-feira, 26 de abril de 2013

O Estado e o financiamento bancário

Na mais recente edição do jornal “Metal”, publicada como suplemento da “Vida Económica” de 26 de abril, o presidente da direção da AIMMAP, Aníbal Campos, dedicou o seu editorial à questão referida em epígrafe, pronunciando-se inclusivamente sobre declarações proferidas por Pedro Passos Coelho a esse propósito no Conselho Nacional do PSD.

Para além disso, fez questão de chamar a atenção para a responsabilidade do Governo na atuação da CGD.

Considerando a importância e a pertinência das palavras do Presidente da AIMMAP, transcreve-se nas linhas subsequentes o editorial em apreço.

"Mais vale tarde do que nunca
O Presidente do PSD, no decurso de uma recente reunião do Conselho Nacional daquele partido, reconheceu, segundo a comunicação social, que “há hoje uma parte da recessão que está a ser causada de forma desnecessária, pela falta de crédito à economia, não obstante haver bancos capitalizados que possam assegurar esse crédito à economia.”
Tenho pena de que essa afirmação não tenha sido proferida pelo primeiro-ministro, mas sim pelo líder da PSD. É a mesma pessoa, mas não é a mesma coisa.
Mas apesar disso, não posso, neste caso, deixar de acompanhar de forma convicta as palavras de Pedro Passos Coelho.
Confesso que, mesmo não nos considerando verdadeiros génios, aqui na AIMMAP já há mais de um ano que tínhamos chegados às mesmas conclusões que o líder da maioria política que nos governa agora verbalizou.
Não obstante, temos de sublinhar tais palavras com satisfação. Como diz o nosso povo, mais vale tarde do que nunca. E apesar de atrasado, Pedro Passos Coelho tem aqui toda a razão.
É importante agora que esse discurso seja assumido na veste de primeiro-ministro. E que não seja dirigido apenas ao PSD mas sim a todo o país.
Para além disso, é fundamental que não se limite a ser um mero propósito e que seja materializado por medidas concretas, sob pena de, caso contrário, a responsabilidade última deixar de ser da banca e passar a ser essencialmente do próprio Governo.
Para esse efeito, talvez seja conveniente ao primeiro-ministro ouvir as palavras avisadas do líder do parceiro de coligação.
Ignoro se é ou não verdade que o primeiro-ministro negligencia a cooperação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, conforme a comunicação social insiste em veicular.
Mas no que se refere às declarações recentemente proferidas pelo líder do CDS a respeito do papel a desempenhar pela Caixa Geral de Depósitos no sistema financeiro português, parece-me óbvio que o primeiro-ministro não lhes pode agora ficar indiferente.
Se reconhece que a banca não está a fazer o que está ao seu alcance para dinamização da economia, não pode Pedro Passos Coelho deixar de integrar no mesmo barco aquele que é o banco do Estado.
Todas as empresas têm a noção de que a CGD em nada é menos restritiva do que os restantes bancos portugueses quando se trata de conceder crédito.
Pelo que o atual governo terá seguramente de chegar à mesma conclusão, a menos que viva num outro país.
Assim sendo, conforme defende Paulo Portas, é fundamental que o Governo defina e balize a missão da Caixa Geral de Depósito e que determine e monitorize anualmente a sua atividade.
O Governo tem toda a legitimidade para ajustar a vocação de um banco público com a importância e a dimensão da CGD. Não se trataria tal iniciativa de qualquer interferência no mercado bancário. Pelo contrário, seria uma medida de gestão absolutamente transparente. E para além disso, mais importante ainda, o cumprimento de uma responsabilidade política de que o Governo não se poderá demitir.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sobre a quebra do consumo interno em Portugal

Na edição de 28 de março do jornal “Metal”, o presidente da direção da AIMMAP, Aníbal Campos, dedicou o respetivo editorial à análise da preocupante situação em que se encontra a economia portuguesa e muito particularmente à contração dramática do consumo interno.

Esta situação decorre claramente da espiral recessiva em que vivemos, num quadro fiscal iníquo e verdadeiramente ineficaz.

Atendendo à pertinência das palavras do Presidente da AIMMAP, transcreve-se nas linhas subsequentes o editorial em apreço.

"Brutal contração do consumo interno

Tal como era absolutamente previsível, as medidas de austeridade draconiana que o atual governo implementou através do orçamento para 2013 estão a asfixiar o mercado doméstico português.

Os números divulgados relativamente a janeiro de 2013 evidenciam uma brutal redução do consumo interno.
As remunerações líquidas dos portugueses são cada vez menores, em resultado do fortíssimo agravamento da carga fiscal.
Para já, os consumidores viram o IRS aumentado. Mas sabem que também vão perder metade dos subsídios de férias e de Natal e que o IMI irá ser agravado.
Além do exposto, as suas despesas essenciais têm vindo a aumentar, nomeadamente em resultado do agravamento do IVA.
Os portugueses têm cada vez menos dinheiro e cada vez mais despesas. Para além disso estão legitimamente assustados com o que aí vem pelo que, como sempre sucede em tais situações, o pouco que a alguns sobra ao fim do mês é canalizado para aforro.
Estas são simples contas de somar e subtrair cujos resultados seriam facilmente antecipados quando se decidiu aumentar a carga fiscal.
Porém, quem nos governa não soube ou não quis fazer essas contas. E a verdade é que estamos agora a braços com problemas acrescidos.
Num país que exporta apenas 40% do seu PIB o consumo interno é fundamental para o equilíbrio da economia.
Pelo que se aquele definha, está necessariamente em causa a viabilidade de milhares de empresas e o emprego de centenas de milhares de portugueses.
O que, obviamente, irá causar dificuldades acrescidas à economia.
Em duas palavras isto apenas poderá ser qualificado como espiral recessiva. E já chegamos ao ponto em que qualquer medida tomada pelo governo apenas contribui para agravar os problemas que supostamente se visaria debelar.
Os aumentos sucessivos de impostos estão a ter um resultado inverso ao desejado pelo governo. Ao invés de crescer, a arrecadação está a diminuir. Pelo que o governo impõe sacrifícios crescentes aos portugueses e não obstante recebe menos dinheiro.
Na sua teimosia e até presunção, o governo insiste em receitas erradas com uma esperança cada vez mais remota de que as mesmas hão de dar certo.
A esperança vai-se desvanecendo mas infelizmente a teimosia vai sendo cada vez mais obstinada.
Este governo parece não querer nem saber ouvir ninguém, replicando voluntariosamente os piores defeitos que os seus responsáveis imputavam ao executivo precedente.
Mais grave ainda é que ao mesmo tempo que vai insistindo obstinadamente nas suas receitas erradas, começa a dar sinais crescentes de desorientação e de descontrolo, evidenciando inclusivamente alguma ignorância.
Até por isso mesmo, é bom que alguém lhe diga de forma muito clara que as suas políticas estão a destruir o consumo interno. E que quando essa destruição se consumar não haverá programa de ajustamento que salve o país.
Mesmo que não tenhamos a pretensão de fazer soçobrar a teimosia do governo, é nossa obrigação expressar aqui o sentimento de inúmeras PME, as quais muito em breve não terão nada para dar que fazer a muitos milhares de trabalhadores.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"