sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Aonde pára a reindustrialização?



Depois de 3 décadas a “destruir” a indústria, a Europa e Portugal, parecem ter acordado para o inegável facto de que sem indústria não há competitividade e não há criação de riqueza que contribua para o bem-estar social.
Não se perca mais tempo a pensar nas razões desta “política” e no que é preciso reconquistar para recuperar a competitividade da indústria.
A AIMMAP até se revê nas propostas da agenda de promoção da reindustrialização em Portugal e na Europa. Mas o Presidente da AIMMAP também se interroga se o esforço que agora se pretende fazer ainda irá a tempo de surtir efeito dada a hegemonia da China no que ao mercado mundial de matérias-primas diz respeito.
Como é dito por Aníbal Campos no editorial do Metal deste mês, não nos valerá de muito voltar a ter indústria se não conseguirmos ter acesso às matérias-primas a preços competitivos.
É por isso que Portugal terá de ser firme na Europa para chamar a atenção para esta questão fundamental para a indústria em geral e para o sector mais exportador nacional em particular. Veja o editorial da Metal deste mês e reflicta.

"Reindustrialização sem matérias-primas
Ao longo de quase 30 anos a partir dos anos oitenta, a Europa viveu uma verdadeira espiral de desindustrialização.
Os seus governos e a Comissão Europeia assumiram erradamente que poderíamos viver de serviços e que o nosso elevado nível de desenvolvimento dispensava a indústria.
O nosso país não escapou a esse lamentável tendência, tendo em algumas ocasiões sido um verdadeiro paradigma dessa aposta errada.
Mais recentemente, mas já depois de mergulhar numa crise profunda, a Europa começou a aperceber-se do equívoco em que tinha incorrido. E concluiu finalmente que não é possível assegurar-se desenvolvimento económico sem uma base industrial sólida.
Só então começou a tentar inverter a tendência e a lançar os alicerces de uma política de reindustrialização.
Conforme tive oportunidade de sublinhar noutros textos que assinei em anteriores edições deste jornal, embora a desoras essa inversão de política era bem-vinda. Como já disse, relativamente às coisas boas mais vale tarde do que nunca!
Não obstante, tem-se verificado que o esforço europeu no sentido de se reindustrializar, embora seja seguramente positivo, tem sentido enormes dificuldades em implantar-se.
Partimos mais tarde do que os Estados Unidos e deixámos fugir a China e os restantes BRIC’s. E com exceção da Alemanha os países europeus estão a sofrer para acompanhar os seus concorrentes americanos e chineses nos mercados globais.
Apesar de tudo, há alguns bons sinais de recuperação de mercados que havíamos perdido na passagem do século e de retoma do emprego na indústria.
Naturalmente, algum mérito terá de ser imputado em tal âmbito ao esforço que os responsáveis europeus estão a fazer no sentido de relançar a atividade industrial no Velho Continente.
Porém, parece-me que esse esforço não está a ser verdadeiramente consistente e que falta sentido estratégico às políticas europeias.
Uma vez mais, temo sinceramente que estejamos condenados a correr atrás do prejuízo. E passo a explicar as razões do meu ceticismo.
Deixámo-nos ultrapassar uma primeira vez quando virámos costas à indústria. Em seguida, demorámos anos a fio a perceber o nosso erro. E só quando nos sentimos esmagados pelas consequências do falhanço é que, já em desespero, nos quisemos reconciliar com a atividade industrial.
Sucede que, durante este vaivém de equívocos e remedeios, deixámo-nos ultrapassar novamente. E agora numa questão ainda mais estruturante.
Na verdade, enquanto dormíamos à sombra da nossa falsa riqueza, permitimos que a China passasse a controlar quase totalmente o mercado mundial das matérias-primas.
Pelo que, embora agora estejamos já a tentar corrigir os erros do passado, corremos o sério risco de falhar novamente.
Com efeito, não nos valerá de muito voltar a ter indústria se não conseguirmos ter acesso às matérias-primas a preços competitivos.
É certo que poderemos relançar as nossas fábricas. É igualmente verdade que até poderemos ter condições para recuperar os nossos potenciais clientes. Mas é insofismável também que corremos o sério risco de vir a ter excelentes fábricas paradas.
Se não controlarmos minimamente a oferta das matérias-primas de que necessitamos para trabalhar, viremos a ter uma reindustrialização verdadeiramente oca. Com muito potencial mas sem nenhum resultado.
É verdadeiramente urgente que a Europa desperte. E desta vez não podemos insistir tanto tempo no erro.
O governo português não tem por si só o peso necessário para abanar a Europa e fixar as políticas europeias. Mas terá seguramente a possibilidade de fazer ouvir a sua voz. Pode ser uma voz fraca, mas nem que seja a sussurrar não pode fugir às suas responsabilidades enquanto parte integrante da Europa.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

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