terça-feira, 3 de maio de 2016

Que sentimento para a indústria?

No editorial do METAL deste mês, Aníbal Campos, Presidente da AIMMAP, questiona as prioridades do actual governo relativamente à indústria. É que os sinais são alarmantes: quer no Plano Nacional de Reformas – onde não á uma única referência à indústria – quer na Lei do Orçamento, onde a indústria deixou de ser qualificada como um dos pilares da economia portuguesa, tudo indica que há uma certa “vergonha da indústria”.
Porque se insiste em políticas que já demonstraram serem erradas para o país?...
Veja as preocupações de Aníbal Campos aqui


"Vergonha da Indústria

Houve um tempo em que o poder político em Portugal deixou de apostar e investir na indústria, com o preconceito de que esse era um setor menor e a ilusão de que um país poderia sobreviver apenas com o turismo e os serviços.
Os péssimos efeitos dessa política obrigaram os governos de José Sócrates e Pedro Passos Coelho a mudar a estratégia, fazendo regressar a indústria ao centro das prioridades e passando a proclamar a reindustrialização e o fomento industrial como expressões decisivas de uma nova política económica.
Essa aposta na indústria foi corporizada através de investimentos criteriosos e eficazes na inovação e na promoção da internacionalização. Apenas no eixo da formação e qualificação as medidas implementadas não foram felizes, tanto no governo do PS como no subsequente governo da coligação PSD/CDS.
Mas apesar dos erros nessa vertente da formação, temos de reconhecer que a mudança foi genericamente positiva.
Os bons resultados dessa alteração não se fizeram esperar. Em poucos anos, as exportações cresceram de 28% para 41% do PIB. A balança comercial passou a ser superavitária pela primeira vez em muitas décadas. O investimento aumentou significativamente. E o emprego, embora não tenha aumentado por causa da crise que assolou o país, passou a ser mais qualificado.
Se a evolução estava a ser positiva, torna-se difícil compreender por que motivo se resolveu mudar novamente o rumo.
Mas infelizmente é isso que está suceder. Corro o risco de estar enganado e se assim for, não terei qualquer reserva em penitenciar-me. Mas a verdade é que, pelos sinais que evidencia, o atual governo tem alguma vergonha em promover ou até em assumir a importância da indústria nacional.
O primeiro sinal nesse sentido foi manifestado logo no momento em que pretendeu desvalorizar a importância das exportações para o crescimento económico, ao mesmo tempo em que defendia novos estímulos ao consumo interno.
Quem conhece minimamente a estrutura produtiva nacional, adivinhou imediatamente que tal aposta no aumento do consumo interno passaria necessariamente por um aumento significativo de importações não reprodutivas de produtos de base industrial e por um desinvestimento na indústria portuguesa.
Mais recentemente, vão-se somando sinais ainda mais esclarecedores a esse propósito.
E um bom exercício para tal efeito passará por comparar a Lei do Orçamento em vigor com os diplomas homólogos da legislatura anterior. Ora, nas anteriores leis do orçamento, foram enunciados os 6 pilares da economia portuguesa, sendo que um deles era precisamente a indústria, a reindustrialização ou o fomento industrial. Na Lei do Orçamento aprovada pela atual maioria a indústria deixou de ser qualificada como um dos pilares da economia portuguesa. Pura e simplesmente, essa palavra foi varrida do novo léxico orçamental.
Já no final do recente mês de março, o governo anunciou o chamado Plano Nacional de Reformas, alegadamente com as grandes linhas estratégicas para o futuro do país. Inacreditavelmente, a versão inicial desse documento não dedicou uma única linha à indústria. Uma vez mais, essa foi verdadeira palavra maldita para os autores do documento.
A omissão de referências à indústria nos dois documentos mais importantes e estruturantes que este governo produziu até ao momento, não é apenas simbólica. Pelo contrário, é a confissão expressa de um novo paradigma, no qual a indústria e as empresas industriais correrão o risco de serem os parentes pobres da economia.
Não consigo perceber que se queira insistir em políticas que já demonstraram ser profundamente erradas e prejudiciais ao país.
Não consigo perceber como é que se pretende projetar o futuro do país, ignorando totalmente a importância da indústria.
E não consigo perceber por que razão o poder político tem vergonha da indústria!
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

1 comentário:

Jorge Pires disse...

mais informações em http://www.indimesa.pt/metalomecanica/pag/pt/industria/inicio