quarta-feira, 1 de abril de 2009

O comportamento da banca portuguesa

A AIMMAP tem denunciado algumas condutas de bancos portugueses no âmbito da concessão de crédito bonificado às empresas.

No entendimento desta associação, os bancos são responsáveis pelo facto de as medidas implementadas no sentido de facilitar a obtenção de crédito, por parte das empresas que dele carecem para fazer face às dificuldades actuais, não estarem a surtir os desejados efeitos.

Na edição de 1 de Abril do jornal “Diário Económico” foi publicado um artigo de opinião da AIMMAP sobre esse assunto.

Tendo em conta a grande importância do tema em questão, transcreve-se em seguida neste blogue o referido artigo de opinião.

"Os Bancos e a crise

A Direcção da AIMMAP teve já oportunidade de abordar publicamente algumas questões relativas ao relacionamento entre os bancos e as empresas no contexto das medidas de combate à crise actual. No nosso entendimento, a banca portuguesa não está a corresponder àquilo que dela a economia espera e exige.
São inúmeras as denúncias que as nossas empresas têm feito chegar à AIMMAP reportando situações verdadeiramente anómalas. Pelo que não podemos deixar de divulgar aqui algumas delas.
É desde logo inaceitável que a banca, de forma quase impune, esteja a duplicar ou triplicar os spread que cobra às empresas, quando é certo que as taxas de juro de referência estão a baixar.
Mas há situações que são ainda mais graves, em que os bancos estão a perverter a lógica subjacente à criação das linhas de crédito bonificado para apoio às empresas.
Sabemos a esse respeito que alguns bancos estão a restringir sistematicamente o crédito às empresas que dele mais precisam – e que cumprem os requisitos para o obter -, tentando em simultâneo impingi-lo às que nem sequer o querem. Ao mesmo tempo que negam o crédito às empresas que atravessam maiores dificuldades de tesouraria, alguns bancos convidam empresas que não carecem de crédito a financiar-se no âmbito das linhas de crédito bonificado e sugerem-lhes que canalizem os respectivos montantes para investimentos financeiros que desde logo lhes propõem.
Noutros casos, os bancos dizem expressamente às empresas que apenas aprovarão os financiamentos se uma parte substancial do montante emprestado se destinar à liquidação de contas caucionadas anteriores. Por exemplo, para que se tenha uma ideia mais precisa da gravidade concreta do assunto, num caso que nos foi denunciado por uma empresa, o banco afirmou que emprestaria € 250.000,00 se a empresa liquidasse em simultâneo, com parte desse dinheiro, uma conta caucionada de € 150.000,00.
Com estes expedientes, os bancos procuram melhorar os seus resultados, desprezando em absoluto não só as dificuldades das empresas como também as intenções e os objectivos de interesse público que presidiram à criação das linhas de crédito.
Isto é verdadeiramente inaceitável e suscita a maior indignação. É pois essencial que a banca perceba de uma vez por todas que a sua função primeira é a de contribuir para a dinamização da economia.
Infelizmente, há alguma banca que insiste em encarar-se como um fim em si mesmo e que continua centrada no respectivo umbigo. Porém, um bom sistema bancário é aquele que tem a coragem de se assumir como intrumental face à economia e à sociedade. E se os bancos não conseguem perceber isso por si próprios, é indispensável que alguém lho explique.
Aliás, se o Estado não conseguir sensibilizar os bancos para essa evidência, chegaremos à conclusão de que os Governos e as autoridades não terão aprendido rigorosamente nada com a crise e que continuam a demitir-se em absoluto das suas obrigações de supervisão e regulação.
A Direcção da AIMMAP"

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