terça-feira, 2 de outubro de 2007

Compras em Espanha

É preocupante a tendência que se observa nos portugueses de cada vez mais irem a Espanha comprar gasolina e alimentos essenciais.
Fazem-no naturalmente porque os preços respectivos são mais baratos do que em Portugal.
Conforme é sabido, essa diferença de preços resulta fundamentalmente do facto de o IVA ser mais baixo em Espanha do que no nosso país.
Mas acontece que se verifica também que, à boleia desses preços mais baixos de alguns bens e produtos, os portugueses estão a habituar-se a comprar em Espanha todo o tipo de bens de consumo. Mesmo quando não é evidente que lá sejam mais baratos.
Preocupado com este fenómeno, o Presidente da Direcção da AIMMAP abordou criticamente a questão no último editorial do boletim “METAL”.
Dada a importância e a actualidade do assunto, publica-se neste blogue o texto do editorial em causa.

"OS NOVOS CARAMELOS
Não há muito tempo havia sistemáticas romarias de portugueses a Vigo, Badajoz ou Ayamonte para comprar produtos alimentares.

Era o tempo do escudo forte, o qual utlizávamos alegremente para comprar caramelos e latas de pêssego em calda no outro lado da fronteira.

Passaram-se algumas décadas desde então, durante as quais a Espanha se transformou numa das mais pujantes economias da Europa e Portugal num país continuamente adiado.

Somos hoje muito menos ricos e poderosos do que os nossos vizinhos do lado. Mas paradoxalmente estamos a regressar ao tempo das excursões a Espanha para compras.

São cada vez mais os portugueses que passam a fronteira para comprar produtos mais baratos. Mas agora, em vez de caramelos, compramos alimentos essenciais e gasolina. E por arrastamento uma série de outros bens de consumo que provavelmente até nem serão mais baratos em Espanha.

Isto parece uma sina. Quer sejamos mais pobres ou mais ricos, o nosso destino acaba sempre nas lojas de Espanha.

A verdade é que ao português comum que viva mais ou menos perto da fronteira compensa largamente ir às compras em Espanha. A gasolina é substancialmente mais barata e muitos alimentos estão isentos de IVA ou têm IVA reduzido.

Donde decorre que esta distorção resulta essencialmente da carga fiscal que o Estado impõe.

Já referi publicamente que não subscrevo, pelo menos no imediato, uma redução generalizada do IVA. Em meu entendimento seria muito mais importante para a economia portuguesa que se diminuísse o IRC.

Mas é fundamental que tenhamos noção do mundo em que nos enquadramos. Uma grande parte da nossa população vive muito perto da fronteira. Pelo que as compras em Espanha são uma enorme tentação, particularmente quando é certo que alguns produtos essenciais são lá inequivocamente mais baratos. E o mais grave é que, como se sabe, esse engodo acaba por levar a que os portugueses se habituem a comprar cada vez mais todo o tipo de produtos em Espanha, mesmo quando o preço não é inferior ao praticado por cá.

Será que não se pode fazer nada no sentido de estancar esta sangria? Será que mesmo sem mexer em termos estruturais nas taxas do IVA não se pode fazer ajustamentos que nos permitam ser mais competitivos face aos nossos concorrentes do lado?

Afinal de contas, uma verdadeira reforma fiscal terá de ser muito mais do que tornar mais eficiente a máquina colectora. Mas se não somos capazes de a fazer em termos globais, ao menos que sejamos suficientemente pragmáticos para introduzir os ajustamentos que no imediato possam salvaguardar a sobrevivência dos nossos pequenos industriais e comerciantes.

António Saraiva
Presidente da Direcção da AIMMAP
"

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