terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O comportamento da banca

Confrontada com o facto de, não obstante os anúncios de abertura de linhas de crédito para as empresas, estas estarem a aceder com cada vez maior dificuldade ao crédito bancário, a AIMMAP tem manifestado uma grande inquietação por tal facto.

Nesse sentido, a Direcção da AIMMAP fez publicar na edição de 24 de Dezembro do jornal “Diário Económico” um texto de opinião sobre esse assunto.

Tendo em conta a actualidade e a importância do tema, transcreve-se o referido texto nas linhas subsequentes.

"A multiplicação do spread

Uma das mais emblemáticas medidas postas em marcha pelo Governo no sentido de tentar ajudar a chamada economia real a fazer face às dificuldades resultantes da crise actual, é seguramente a criação de linhas especiais de crédito destinadas às empresas.
Até acreditamos que o Governo esteja imbuído das melhores intenções em tal âmbito. Mas o certo é que entre os propósitos anunciados e a prática efectiva da banca vai uma distância brutal.
Com efeito, apesar de todas as linhas de crédito que têm vindo a ser lançadas, constatamos estar a ocorrer uma dramática retracção no crédito concedido às empresas. Verificando-se pois que, apesar das parangonas nos jornais e dos discursos politicamente correctos em sentido contrário, os apoios financeiros não estão a chegar efectivamente às empresas.
A AIMMAP – Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal, tem sido contactada por inúmeras empresas do sector que se queixam precisamente disto.
E que verberam muito particularmente o facto de, apesar das descidas da taxa de juro de referência, os bancos estarem a tornar o dinheiro cada vez mais caro.
Os bancos estão, de um modo geral, a aumentar de forma exponencial o spread aplicado aos empréstimos – inclusivamente no que se refere aos anteriormente contratados. Há casos de duplicação e mesmo de triplicação.
Esta prática por parte dos bancos é a todos os títulos verdadeiramente lamentável.
Mas é igualmente inaceitável que os poderes públicos façam vista grossa a este estado de coisas.
Como sabemos, o sistema financeiro no seu todo é o principal responsável pela crise brutal com que estamos a ser obrigados a conviver.
Não obstante, é de igual modo certo que há também uma significativa quota-parte de responsabilidade nesse âmbito – por omissão -, dos poderes públicos e das autoridades reguladoras dos diversos Estados. Não deixa aliás de ser verdade que muito do que grave aconteceu e veio entretanto a ser desvendado, apenas foi possível pelo facto de os bancos e outras instituições financeiras terem andado anos sucessivos em verdadeira roda livre, sem regulação, supervisão e mesmo fiscalização por parte dos Estados.
Que não permitam pois as nossas autoridades que a banca portuguesa continue a comportar-se como se o seu único objectivo fosse o de se alimentar a si própria e como se não tivesse quaisquer responsabilidades perante a economia real.
Apelamos ao Governo para que seja verdadeiramente pró-activo junto dos bancos, pondo termo às suas práticas egoístas e irresponsáveis.
A regulação pública terá também de passar por uma censura severa às práticas que sejam injustificadamente restritivas do acesso ao crédito bancário.
Aliás, essas práticas são desprovidas de qualquer conteúdo ético e colidem radicalmente com os superiores interesses da economia nacional que têm estado subjacentes às medidas implementadas pelo Governo.
Pelo que tem este, obviamente, legitimidade acrescida para evitar os desmandos e as condutas leoninas da banca. Enquanto for tempo…
A Direcção da AIMMAP"

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